Segunda-feira, 31 de Março de 2008

Janela. Uma palavra banal, quer pela forma quer pelo significado. Pois aos ouvidos de um estrangeiro esta parece ser uma palavra especial.
Aconteceu-me o insólito de dois italianos, em contextos completamente diferentes, ficarem de olhar embevecido e a cantarolar a palavra. Janela. Ja-ne-la. Janela. Disseram ambos ter uma sonoridade melodiosa, suave como uma brisa, leve como uma pena, composta por duas vogais fechadas, mas que na boca dos portugueses equivale a três.
Ao segundo, resolvi fazer-lhe um cd com música portuguesa. E isso obrigou-me a um exercício duplamente difícil: eleger uma lista de canções portuguesas que eu gostasse, e por outro lado, que eu achasse que um estrangeiro pudesse gostar. Escusado será dizer que delirou com a surpresa da surpresa, a velha "menina estás à janela".
Eu sei que não é fácil compor e cantar em português. Há palavras que simplesmente não toleramos numa boa letra, como bebé, borboleta ou passarinho. O nosso ouvido está bem amestrado, e à mínima, pomos a canção na borda do prato.
Gosto tanto da forma como dizes os erres, David*. Diz-me, porque é que não nos cantas em português?
*Fonseca
Quinta-feira, 27 de Março de 2008
As velas foram-se sumindo, a comida arrefecendo nas travessas, o gelado liquefeito. Só faltava que as flores da jarra murchassem para tornar o cenário mais coerente. Ora, os convidados simplesmente não apareceram. Podia ser pior, pensou ela ao pendurar o avental, ao menos aprendeu a fazer ameijoas à Bulhão Pato.
Sexta-feira, 21 de Março de 2008
... caminhando sob o sol
Gosto muito de você, leãozinho
Para desentristecer, leãozinho,
o meu coração tão só...


Quarta-feira, 12 de Março de 2008
Ultimamente tem sido uma enxurrada de notícias, reportagens e entrevistas sobre crimes urbanos. A abordagem é a do costume: sensacionalista e dramática. Mas não se limitam à exposição dos factos, passam vídeos didácticos, com explicações adicionais indicando os sítios, as horas, os dias da semana, as armas utilizadas, a composição da quadrilha, propícios ao gamanço de um carro, por exemplo. E repetem vezes sem conta como a vítima deve reagir: entrega a chave ao bandido, sem nunca oferecer resistências. Assim, quase convencem um tipo que é fácil roubar. É isto zelar pelo segurança do cidadão comum? Cultiva-se o medo e banaliza-se a violência. Está o circo bem montado... Espero que a pequena malandragem não se sente a ver o noticiário das 20:00. É que é coisa que não vale mesmo a pena...
Segunda-feira, 3 de Março de 2008
Li-o na adolescência, tenho ideia de o título me ser incompreensível. De pensar ser um livro de adultos. E de isso me atrair. Período adolescente, recordo. Ao abri-lo, despertaram-me as imagens de um insecto gigante com cara de bom homem. Da história recordo-me pouco, apenas a partilha da agonia daquele homem que certa manhã acordara transformado em escaravelho. E de não me provocar repugnância, mas uma certa comiseração. Que iria comer, como ir trabalhar, como apresentar-se aos outros?
Para avivar memórias, ou conhecer a aflição de Gregor Samsa, entre 28 de Fevereiro e 30 de Março, no palácio do Sobralinho, em Vila Franca de Xira.
Participação especial de João Luz.
Domingo, 2 de Março de 2008

Mesa 39 sobre o mar - Parede.